Renasceu? - Uma crítica a Demolidor Renascido

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Após anos de hiato, durante a San Diego Comic-Con de 2022, Kevin Feige finalmente anunciou o retorno de Demolidor para a televisão, sob o título de sua nova série "Demolidor Renascido". A nova empreitada da Disney rapidamente chamou a atenção do público, curioso para saber como a Marvel encaixaria uma série totalmente diferente dos seus padrões em seu universo cinematográfico. Anos depois do anúncio e em meio a uma produção, no mínimo, conturbada, a primeira temporada da série finalmente é apresentada ao público. Após o seu lançamento, será que podemos finalmente dizer que a Disney acertou a mão aqui? Venha comigo enquanto dissecamos um pouco mais essa série.

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Demolidor Renascido acompanha as trajetórias de Matt Murdock e Wilson Fisk, agora em contextos completamente diferentes, tentando lidar com suas "missões pessoais" sob uma nova perspectiva. O advogado e o prefeito lutam enquanto percebem as limitações impostas a eles em seus novos papéis, renegando suas verdadeiras naturezas diante de um conflito interno moldado pelos traumas dessas duas trágicas figuras.

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A série ou por sérios problemas em sua produção, incluindo a mudança da equipe criativa no meio das gravações, após ser notado pela chefia da Marvel Studios que o material apresentado não era suficientemente bom para fazer jus ao que a Netflix havia conseguido entregar. A equipe de showrunner, roteiristas e diretores foi trocada no meio da produção para dar à série um novo direcionamento, ao mesmo tempo em que se tentava manter parte do material inicial e encaixá-lo na nova visão criativa. Demolidor Renascido, antes mesmo de ser lançada, já carregava a ingrata tarefa de ser uma continuação à altura da série da Netflix — que, mesmo fora dos padrões das produções de super-heróis da época, apresentava uma qualidade MUITO acima da média, estabelecendo-se como uma das melhores séries da plataforma de streaming, onde até hoje é celebrada como uma das melhores, senão a melhor, do gênero.

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Demolidor Renascido chega ao Disney+ em meio a expectativas altíssimas, principalmente porque, já a partir de seu primeiro episódio, a série se assume de uma vez por todas como uma continuação direta do que havia sido feito na Netflix. Talvez o fato de tentar, ao mesmo tempo que evita, perseguir a sombra do que foi feito anteriormente seja o que mais a prejudique. A série ou por uma produção conturbada, incluindo a demissão de uma equipe criativa no meio do trabalho por ser considerada "insatisfatória" demais, além da adição de uma nova equipe, que tinha como intuito resgatar a alma da série que as pessoas haviam aprendido a gostar.

É claro que, quando se trabalha com base em um material pré-estabelecido e uma forma de direção já determinada, afastar-se muito disso se torna uma tarefa complicada. E é justamente aqui que muitos encontram um enorme buraco na série — e onde eu encontro um grande trunfo dela. É, de certa forma, impressionante que a produção tenha conseguido conciliar duas direções diferentes (aqui me refiro especificamente ao aspecto profissional) e manter uma história coerente, com uma narrativa que sabe bem o que quer, tem plena noção da história que está contando e dispõe seus elementos de roteiro de forma a enriquecer essa trajetória.

Demolidor Renascido é composta por "mini-arcos": a série possui três pequenos arcos que surgem de maneira contida em si mesmos, estabelecendo uma problemática, resolvendo-a e, com o seu fim, gerando uma nova que será abordada futuramente.

Em meio aos arcos do Tigre Branco, do Muse e da força-tarefa antivigilantes, somos apresentados à caminhada de Matt Murdock e Wilson Fisk dentro de um novo status quo. Dentro desse contexto, a série é capaz, com muita maturidade e lucidez, de tratar de temas sensíveis envolvendo a falibilidade do sistema. Como já dito, todos os arcos são dispostos na trama de maneira que o espectador compreenda claramente o fio narrativo que eles puxam, permitindo-nos entender o ponto de partida de Murdock e Fisk, o caminho que trilham e o destino que alcançam — tudo isso muito bem argumentado, construído de maneira minuciosa e, principalmente nos primeiros quatro episódios, repleto de bons diálogos.

É claro que, se a narrativa é o ponto mais alto de Demolidor Renascido, o mesmo não pode ser dito da direção. Não que ela seja ruim; na maior parte do tempo, mantém-se dentro de um nível mediano, embora em momentos muito específicos consiga realmente brilhar — felizmente, coincidindo justamente com os pontos de apogeu narrativo. Ainda assim, a série enfrenta problemas incômodos de ritmo: um ritmo inconstante que acelera e desacelera em momentos aleatórios, sem parecer ter qualquer senso de equilíbrio para saber exatamente quando desacelerar ou estender uma trama.

Como já ressaltei, a força da trama é o grande trunfo desta série. Portanto, mesmo quando a direção parece querer "sabotar" a história que está sendo contada, tudo é tão bem argumentado que é difícil se incomodar com algo. A narrativa, no entanto, não seria tão bem entregue se não fosse pela qualidade do elenco. Charlie Cox e Vincent D'Onofrio carregam a série nas costas, com interpretações poderosas, repletas de nuances, determinando de vez que esses dois são, talvez, algumas das joias mais raras da Marvel atualmente. São atores talentosíssimos que se esforçam para entregar o melhor de si.

Embora o restante do elenco também apresente atuações satisfatórias, pode ser incômodo notar como quase todos os personagens secundários não am de figurantes, sem qualquer profundidade, servindo apenas como "bonecos" para que os protagonistas não fiquem presos em eternos monólogos. Mas o quanto isso realmente prejudica a grande trama? A maior parte desses personagens sequer possui um arco próprio, nem qualquer peso significativo dentro de uma história que prefere concentrar todos os seus esforços exclusivamente em Wilson Fisk e Matt Murdock.

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Demolidor Renascido é quase um milagre: uma série que, após tantos problemas em sua produção, ainda assim consegue entregar algo desse nível é realmente louvável. Apresenta uma trama lúcida, que trata de seus temas com naturalidade e se apoia no talento ímpar de seus atores principais para entregar uma história poderosa, capaz de adicionar ainda mais complexidade aos personagens de Charlie Cox e Vincent D'Onofrio. É, definitivamente, uma das melhores coisas que a Marvel produziu em muito tempo e pavimenta um caminho promissor para as próximas temporadas (até agora).

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Nota: 9,4/10,0

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