Eu era poesia que você não soube ler.
Estava ali, nas entrelinhas dos meus gestos,
nas pausas das minhas palavras,
nas vezes em que fiquei em silêncio esperando que você me enxergasse além do óbvio.
Te dei versos disfarçados de cuidado,
rimas escondidas em olhares,
e estrofes inteiras no jeito que eu ficava, mesmo quando tudo em mim queria ir embora.
Mas você só sabia decifrar o raso,
só lia quando era gritado,
e eu sempre fui feita de sussurros.
Você me teve em mãos como se fosse qualquer papel,
sem notar que eu era tinta viva —
sentimento cru, cicatriz bonita,
um poema que pedia para ser sentido, não explicado.
E agora, que me perdi de você,
entendo: não era falta de amor.
Era falta de leitura.

Eu era poesia que você não soube ler.
Não era difícil me entender, sabe?
Eu me entregava em cada detalhe
no jeito que te olhava como se o mundo parasse ali,
no cuidado silencioso que eu depositava nas pequenas coisas.
Eu era verso livre, palavra sentida,
mas você só enxergava a superfície,
como quem folheia um livro lindo sem coragem de mergulhar na história.
Me doía, mas eu ficava.
Ficava esperando que em algum momento você parasse,
me olhasse de verdade,
visse que por trás do riso calmo havia tempestades disfarçadas,
e que meu amor era poesia crua,
não dessas que se entende de primeira —
daquelas que se sentem no peito, mesmo sem entender direito.
Mas você queria o raso.
Queria respostas prontas, frases simples,
enquanto eu era complexa e cheia de camadas.
Te entreguei meus silêncios mais profundos,
e você os tratou como se fossem nada.
Te escrevi com a alma,
mas você lia com pressa, como quem quer chegar ao fim sem entender o caminho.
Hoje eu entendo: não era sobre amor,
era sobre linguagem.
Eu falava com o coração, e você só ouvia com os ouvidos.
Eu era poesia,
e você...
você nunca soube ler.



Comments (4)
Isso é de qual lugar?
Das profundeza da mente
Responder para: 🇮🇱' 𝐀𝐬𝐡𝐲 w. 𝘒𝘦𝘯𝘴𝘩𝘪𝘯 ♡̶
Vc mesm fez foi
Responder para: Goe i alana
Foi sim