A Sombra do Festival da Lua

Em uma vila isolada nas montanhas de Yamagata, cercada por florestas de cedros e banhada pela luz prateada da lua cheia, havia uma tradição centenária: o Festival da Lua Cheia. Todos os anos, no outono, os moradores se reuniam no templo local para honrar Tsukuyomi, o kami da lua. Eles acendiam lanternas de papel, dançavam ao som de taiko e ofereciam saquê e bolinhos de arroz ao altar, acreditando que isso garantiria proteção contra os yōkai que vagavam na escuridão.

Hana, uma jovem de 16 anos, era fascinada pelas histórias que sua avó contava sobre o festival. “Nunca saia do círculo de lanternas durante a cerimônia”, dizia a avó, com olhos sérios. “A floresta está viva, e nem todos os espíritos são bondosos.” Hana, curiosa e um pouco rebelde, sempre quis saber mais sobre os yōkai, mas as histórias eram vagas, como se os mais velhos temessem pronunciar seus nomes.

Na noite do festival, a vila estava radiante. As lanternas flutuavam como estrelas terrestres, e o aroma de incenso preenchia o ar. Hana, vestida com um quimono azul decorado com flores de cerejeira, ajudava a arrumar o altar quando notou algo estranho: uma das lanternas, no limite do círculo, tremeu e apagou. Ninguém parecia ter percebido, mas Hana sentiu um arrepio. Curiosa, ela se aproximou da lanterna apagada, ignorando o aviso da avó.

Ao tocar a lanterna, um vento frio soprou, e a floresta pareceu sussurrar seu nome. De repente, uma figura emergiu das sombras: alta, com olhos brilhantes como brasas e uma máscara de madeira que lembrava um lobo. Era um yōkai, mas não como os descritos nas histórias. Ele se apresentou como Kage, um espírito da floresta que servia Tsukuyomi. “Você quebrou o círculo”, disse ele, com uma voz que ecoava como o vento. “Agora, algo antigo despertou. Se não consertarmos isso antes do amanhecer, a vila será consumida pela escuridão.”

Hana, assustada mas determinada, perguntou o que precisava fazer. Kage explicou que, há séculos, um yōkai maligno chamado Yamikumo, uma criatura feita de sombras e ódio, foi selado sob o templo por Tsukuyomi. O círculo de lanternas era parte do selo, e a curiosidade de Hana o enfraqueceu. Para restaurar o equilíbrio, ela precisava encontrar três fragmentos de um espelho sagrado, escondidos na floresta, e levá-los ao altar antes que a lua se pusesse.

Com Kage como guia, Hana mergulhou na floresta. O primeiro fragmento estava em uma caverna guardada por um kappa, um yōkai aquático que exigiu um pepino fresco em troca do objeto. Hana, lembrando-se das histórias da avó, ofereceu um pepino que carregava na bolsa, e o kappa, satisfeito, entregou o fragmento. O segundo fragmento estava no topo de uma árvore gigantesca, protegido por um tengu, um yōkai alado. Hana precisou provar sua coragem, escalando a árvore enquanto o tengu a desafiava com ventos fortes. Por fim, o terceiro fragmento estava em um lago, onde uma kitsune, uma raposa de nove caudas, testou sua sabedoria com enigmas sobre a lua e a natureza.

Cada desafio ensinava algo a Hana: respeito pela natureza, coragem diante do medo e humildade perante o desconhecido. Quando ela finalmente reuniu os três fragmentos, o espelho se formou, brilhando com uma luz suave. No templo, com a ajuda de Kage, ela colocou o espelho no altar enquanto os tambores do festival ecoavam. Um rugido ecoou da floresta, e Yamikumo surgiu, uma massa de sombras com olhos vermelhos. Mas a luz do espelho, amplificada pela lua cheia, envolveu a criatura, selando-a novamente.

Quando o sol nasceu, a vila estava segura, e o festival terminou em celebração. Kage, antes de desaparecer na floresta, olhou para Hana e disse: “Você é mais forte do que imagina. A lua sempre guiará os corajosos.” Hana nunca mais viu o yōkai, mas, a partir daquele dia, carregava um novo respeito pelas tradições e pela floresta que cercava sua vila.