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— O TESTAMENTO - XLII-XLVI, François Villon

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Pois que papas e reis, filhos de reis

E os que em ventres reais foram gerados

Mortos enterram-se, bem o sabeis,

E a mãos alheias am seus reinados:

Eu, pobre diabo em Rennes e outros lados,

Não morrerei? Certo, se Deus quiser;

Mas tenha eu feliz, quinhão gozado,

A morte honrada venha quando vier.

Para todos o mundo tem final

Pense o que bem pensar rico ladrão:

A espada pende sobre nós, mortal.

O velho aceita essa consolação,

Ele que teve a fama de burlão

Jovial, no tempo em que era rapazola,

E ter-se-ia por mau e paspalhão,

Se velho usasse de fazer graçola.

Agora força é que entre a mendigar,

Pois a tanto o constrange a precisão,

Como ontem, põe-se a morte hoje a chamar:

A Tristeza lhe oprime o coração,.

Não fosse Deus e a sua punição,

Horrível ato ele praticaria:

Quebrando a lei de Deus com essa infração,

Ele a si mesmo se destruiria.

Se ele foi, quando jovem, agradável,

Agora nao diz nada mais que agrade;

Macaco velho е bem desagradável,

Não faz momice que não desagrade;

Se se cala, e com isso não enfade,

Levam-no à conta de perfeito idiota;

Fala? Mandam que cale, de verdade,

Que em sua ameixeira fruto não se nota.

Assim é que essas pobres mulherzinhas

Que já não têm com que, pois velhas são;

Se vêm rogar-lhes, umas jovenzinhas.

Que as alcovitem, pedem a razão

Baixinho a Deus: por que motivo, oh não!

Vieram há tantos anos para o dia?

Nosso Senhor se cala, quietarrão,

Pois, caso discutisse, perderia.

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