Um dia eu contei para as flores…
que o amor andava fugindo de mim.
Elas ouviram, silenciosas,
como quem carrega segredos demais para ainda julgar.
Falei das ausências que pesam,
dos abraços que nunca chegaram,
e das palavras que calei,
com medo de nunca serem ouvidas.
As flores, frágeis e serenas,
me mostraram que até o que é belo se desfaz,
que não há promessa de eternidade,
apenas o instante breve em que se abre ao sol,
antes de se curvar ao tempo.
Ali, no meio daquele jardim,
percebi que a vida é feita de ciclos —
flores que nascem, flores que caem,
e outras que renascem quando menos se espera.
Mas eu ainda não sabia renascer.
Carregava raízes presas a memórias antigas,
sementes que não germinaram,
e folhas secas que o vento se recusava a levar.
O perfume das flores era um lembrete sutil:
não adianta apressar a primavera
quando o inverno ainda mora dentro de nós.
Então, calei minha dor,
deixei que as flores falassem por mim,
e fui embora com a alma um pouco mais leve,
não por ter esquecido,
mas por finalmente ter compreendido
que até o amor — como as flores —
precisa de tempo para florescer,
morrer e, quem sabe, um dia,
florescer de novo.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀written by Enoch.
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Pueta
Sempre