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Thorns Trilogy - Prince of Thorns (09)

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╰>ʙᴏᴀ ʟᴇɪᴛᴜʀᴀ

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태도! 왜냐하면 바람이 걸

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- QUATRO ANOS ATRÁS -

O bastão golpeou meu pulso num estalo ruidoso. Agarrei-o com minha outra mão. Tentei soltá-lo com uma torção, mas Lundist segurava com força. Ainda assim pude ver que ele estava surpreso.

“Quer dizer que estava realmente prestando atenção, Príncipe Jorg?”

Na verdade estava com a cabeça longe, em algum lugar sangrento, mas meu corpo mantém o hábito de ficar em vigília durante essas ocasiões.

“Talvez você possa resumir minha lição até agora”, ele disse.

“Somos definidos por nossos inimigos. Isso é fato em relação aos homens e, por extensão, a seus países”, respondi. Eu reconheci o livro que Lundist trouxera para a aula. Sermos moldados por nossos inimigos era sua tese central.

“Bom.” Lundist puxou seu bastão e o apontou para o mapa. “Gelleth, Renar e os Pântanos de Ken. Ancrath é um produto de suas cercanias; esses são os lobos à sua porta.”

“Só o que me importa são as Terras Altas de Renar”, eu disse. “O resto que se dane.” Balancei minha cadeira e a equilibrei nas duas pernas de trás. “Quando meu pai ordenar o Portão contra o Conde Renar irei junto. Eu o matarei, se me permitirem.”

Lundist lançou um olhar aguçado sobre mim, tentando ver se eu falava com convicção. Há algo errado naqueles olhos tão azuis num homem velho, mas, errados ou não, eles podiam enxergar minha alma.

“Meninos de dez anos ficarão em melhor companhia com Euclides ou Platão. Quando visitarmos a guerra, Sun Tzu será nosso guia. Estratégia e táticas são fundamentais, elas são as ferramentas de príncipes e reis.” Eu estava convicto. Sentia uma fome dentro de mim, uma ânsia pela morte do conde. As rugas ao redor dos lábios de Lundist me disseram que ele sabia quão profunda era essa fome.

Olhei pela janela mais alta, onde a luz do sol dedilhava a sala de aula e transformava a poeira em partículas bailantes de ouro. “Eu o matarei”, disse. E continuei, numa súbita necessidade de causar repulsa: “Quem sabe usando um atiçador, da mesma maneira como matei Polegar, aquele símio”. Sentia rancor por haver matado um homem e não guardar nenhuma lembrança do acontecido, sem ter um vestígio sequer da raiva que me levou ao assassinato.

Eu esperava novas verdades da parte de Lundist. Que ele as explicasse para mim, que explicasse quem eu era. Independentemente das palavras, aquela era minha pergunta, da juventude para a velhice. Mas até mesmo os tutores têm seus limites.

Balancei de volta, para frente, apoiei minhas mãos sobre o mapa e olhei para Lundist mais uma vez. E vi piedade. Parte de mim queria aceitá-la, queria dizer a ele o quanto eu lutara contra aqueles espinhos, como eu havia testemunhado William morrer. Parte de mim almejava abandonar aquilo tudo, o fardo que eu carregava, a dor ácida da memória, a corrosão do ódio.

Lundist inclinou-se sobre a mesa. Seus cabelos caíram sobre seu rosto, longos ao estilo oriental, tão brancos que eram quase prateados. “Somos definidos por nossos inimigos - mas também podemos escolhê-los. Seja um inimigo do ódio, Jorg. Faça assim e você poderá ser um grande homem e talvez até, o que é mais importante, um homem feliz.”

Há algo frágil dentro de mim que se romperia antes de se curvar. Algo pontudo, que perfura todas as palavras suaves que um dia eu possuí. Não creio que o Conde de Renar tenha colocado essa arma dentro de mim no dia em que mataram minha mãe - ele tão somente desembainhou a lâmina. Parte de mim ansiava por uma rendição, desejava aceitar o presente que Lundist me oferecia.

Eu decepei esse pedaço de minha alma que, por bem ou por mal, morreu naquele dia.

“Quando o Portão marchará?” Não deixei escapar nada que desse a entender que ouvira suas palavras.

“A Guarda do Portão não marchará”, disse Lundist. Seus ombros se curvaram em cansaço ou derrota.

Aquilo foi um soco no estômago, um golpe de surpresa ultraando minhas defesas. Saltei, tombando a cadeira. “Eles vão!” Como assim eles não vão?

Lundist se virou em direção à porta. Com o movimento, seu roupão produziu um ruído seco, quase como um suspiro. A descrença me alfinetou, minhas pernas não me pertenciam. Pude sentir o calor subindo em minhas bochechas. “Como assim não vão?”, gritei às suas costas, enfurecido por me sentir como uma criança.

“Ancrath é definida por seus inimigos”, ele disse, caminhando tranquilamente. “A Guarda do Portão deve proteger nossa terra e nenhum outro exército haverá de enfrentar o conde em seus domínios.”

“A rainha foi morta.” A garganta de minha mãe se abriu novamente e coloriu minha visão de vermelho. Os espinhos queimaram em minha pele mais uma vez. “Um príncipe do reino assassinado.” Quebrado como um brinquedo.

“E há um preço que precisa ser pago.” Lundist parou, uma mão na porta, inclinada como se procurasse apoio.

“O preço de sangue e ferro!”

“Direitos sobre o Rio Cathun, três mil ducados e cinco garanhões da Arábia.” Lundist não me olhou nos olhos.

“O quê?”

“Comércio fluvial, ouro, cavalos.” Aqueles olhos azuis me encontraram sobre seus ombros. A mão envelhecida segurou a argola da porta.

As palavras fizeram sentido uma de cada vez, não todas em conjunto.

“A guarda...”, comecei.

“Não marchará.” Lundist abriu a porta. O dia avançou, brilhante, quente, enfeitado com a risada distante de escudeiros se divertindo.

“Irei sozinho. Aquele homem morrerá, gritando, pelas minhas mãos.” Uma fúria congelante rastejou sob minha pele.

Eu precisava de uma espada, um bom punhal pelo menos. Um cavalo, um mapa - surrupiei aquele que estava a minha frente, velho, mofado, as bordas enfeitadas com tintura indu. Eu precisava... de uma explicação.

“Como? Como suas mortes podem ser compradas?”

“Seu pai forjou a aliança com os reinos da Costa Equina através do casamento. A força dessa aliança ameaçava o Conde Renar. O conde agiu logo, antes que os elos se fortalecessem demais, na esperança de remover tanto a esposa quanto os herdeiros.” Lundist deu um o rumo à luz e seus cabelos ficaram dourados, com um halo ao redor. “Seu pai não tem a força para destruir Renar e manter os lobos do lado de fora das portas de Ancrath. Seu avô, na Costa Equina, jamais aceitará isso. A aliança, então, caiu por terra e Renar está a salvo. Agora Renar procura a trégua e ele deve voltar suas forças para outras fronteiras. Seu pai lhe vendeu essa trégua.”

Por dentro eu caía, despencava, desmoronava. Caía num abismo sem fundo.

“Venha, príncipe.” Lundist me ofereceu sua mão. “Vamos caminhar sob o sol. Hoje não é um dia para aulas teóricas.”

Eu amassei o mapa e, em algum lugar dentro de mim, encontrei um sorriso, afiado, amargo, mas com uma frieza que servia bem a meus propósitos. “Claro, querido tutor. Vamos caminhar lá fora. Este não é um dia para ser desperdiçado - ah, não.”

E fomos lá fora e todo o calor do dia não conseguiu derreter o gelo que havia dentro de mim.

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