<img src="https://sb.scorecardresearch.com/p?c1=2&amp;c2=22489583&amp;cv=3.6.0&amp;cj=1">

Thorns Trilogy - Prince of Thorns (13)

Author's Avatar
12
0

╰> ʙᴏᴀ ʟᴇɪᴛᴜʀᴀ

──── ──────── ────

태도! 왜냐하면 바람이 걸

_____________________________________________

- QUATRO ANOS ATRÁS-

O nubano foi rápido. O mais impressionante, no entanto, não era sua velocidade, mas a sua falta de hesitação. Ele alcançou o pulso de Berrec. Um puxão repentino fez com que o carcereiro se estatelasse sobre ele. O atiçador na mão esgarçada de Berrec perfurou Grebbin entre as costelas, fundo o suficiente para fazer Berrec soltá-lo enquanto Grebbin se contorcia.

Sem interrupções, o nubano levantou seu torso até quase ficar sentado, o mais ereto que seu pulso acorrentado lhe permitia. Berrec deslizou do peito do nubano, escorregando em suor e sangue, até o seu colo. Ele tentou se levantar. O cotovelo descendente do nubano pôs um fim à tentativa de fuga. Acertou a nuca de Berrec e os ossos rangeram.

Grebbin gritou, é claro, mas os gritos eram muito comuns nas masmorras. Ele tentou escapar, mas havia perdido seu senso de direção e acabou golpeando a porta de uma cela com força suficiente para que a ponta do atiçador atravessasse sua omoplata. O impacto o derrubou e ele não se levantou mais. Revirou-se por um momento, balbuciando algo, mas apenas baforadas de fumaça e vapor escapavam de seus lábios.

Gritos de euforia vieram das celas, cheias de ocupantes estúpidos demais para saber a hora de ficar calados.

Lundist poderia ter escapado. Ele teve tempo de sobra. Eu esperava que fosse buscar ajuda, mas ele estava logo ao meu lado na hora que Grebbin atingiu o chão. O nubano empurrou Berrec para um canto e liberou seu outro pulso.

“Corra!”, gritei a Lundist, caso a ideia ainda não lhe tivesse ocorrido.

Sim, ele estava correndo, só que na direção errada. Eu sabia que o tempo fora generoso com ele, mas não imaginava que ainda fosse tão rápido.

Mudei de lugar para colocar a mesa e o nubano entre mim e Lundist.

O nubano soltou os pinos dos dois tornozelos enquanto Lundist se aproximava. “Leva o garoto, velhote, e se manda.” Ele tinha a voz mais profunda que eu jamais ouvira.

Lundist fitou o nubano com seus olhos azuis desconcertantes. Seu manto sossegou, esquecendo-se da correria. Lundist levou as mãos ao peito, uma sobre a outra. “Se você partir agora, homem de Nuba, eu não irei impedi-lo.”

Isso gerou uma gargalhada geral vinda das celas.

O nubano olhava Lundist com a mesma intensidade que eu havia visto anteriormente. Ele tinha alguns centímetros a mais do que meu tutor, mas era a diferença de volume que fazia daquele um confronto entre Davi e Golias. Enquanto Lundist era esguio como uma lança, o nubano tinha muito mais peso, sustentado por grossas placas de músculos sobre ossos pesados.

O nubano não riu de Lundist. Talvez ele enxergasse algo além do que os prisioneiros conseguiriam. “Vou levar meus irmãos comigo.”

Lundist ponderou a respeito e deu um o atrás. “Jorg, aqui.” Ele continuou encarando o nubano.

“Irmãos?”, perguntei. Não via nenhum outro rosto negro nas barras.

O nubano abriu um sorriso. “Uma vez, eu tive irmãos de cabana. Eles estão muito longe, talvez estejam mortos.” Ele abriu seus braços, o sorriso se tornou uma meia careta enquanto ele sentia as queimaduras. “Mas os deuses me deram novos irmãos, irmãos da estrada.”

“Irmãos da estrada.” Eu rolei as palavras em minha língua. Uma visão de Will reluziu em minha cabeça - sangue e madeixas. Havia uma força aqui. Podia sentir.

“Mate os dois e me tire daqui.” Uma porta à minha esquerda tremeu como se um touro se inquietasse atrás dela. Se o corpo combinasse com a voz haveria um ogro naquela cela.

“Você me deve a vida, nubano”, eu disse.

“Sim.” Ele puxou as chaves do cinto de Berrec e deu um o na direção da cela à minha esquerda. Acompanhei seu o, mantendo-o entre mim e Lundist.

“Você vai me dar uma vida em troca”, disse.

Ele parou, observando Lundist. “Vai com o seu tio, garoto.”

“Você me dará uma vida, irmão, ou então me pagará com a sua”, eu disse.

Mais gargalhadas vieram das celas e dessa vez o nubano acompanhou os demais. “Quem você quer morto, irmãozinho?” Ele pôs a chave na fechadura.

“Eu lhe direi quando nós o virmos.” Se eu fosse específico e dissesse Conde Renar levantaria muitas dúvidas. “Eu vou com vocês.”

Lundist se apressou ao ouvir isso. Ele girou em torno do nubano e lhe aplicou um chute na parte de trás do joelho. Ouvi um estalo enquanto o negro ia ao chão.

O nubano girou ao cair e se lançou contra Lundist. De algum jeito, o velho conseguiu se esquivar e quando o nubano se estatelou a seus pés Lundist chutou-lhe o pescoço, um golpe que silenciou suas palavras e o deixou inerte sobre o chão de pedras.

Eu quase escapei, mas os dedos de Lundist se entrelaçaram em meus cabelos esvoaçantes. “Jorg! Você está indo para o lado errado!”

Tentei me livrar, rosnando. “Ah, não, estou indo para o lado certo.” E eu sabia que era verdade. A selvageria do nubano, os laços entre aqueles homens, o foco no que faz a diferença - em qualquer situação -, tudo aquilo ecoava dentro de mim.

Pelo canto do olho percebi a porta da cela se abrindo. O estalo havia sido da chave girando.

Lundist segurou meus ombros e me forçou a encará-lo. “O seu lugar não é entre estes homens, Jorg. Você não pode imaginar a vida que eles levam. Eles não têm as respostas que você procura,” Ele disse com tanta intensidade que eu quase acreditei que se importava.

Uma figura emergiu da cela, inclinando-se para o corredor. Eu nunca vira um homem tão grande, nem Sir Gerrant, o Guardião da Távola; ou Shem, o cavalariço; nem mesmo lutadores eslavos.

O homem surgiu atrás de Lundist, rápido como um trovão.

“Jorg. Você pensa que eu não entendo...” - um braço gigantesco silenciou Lundist e o mandou direto para o chão de pedras, com tanta força que eu estremeceria mesmo se o tutor não tivesse arrancado um punhado dos meus cabelos ao despencar.

O homem bloqueou meu caminho, um gigante horroroso vestido de trapos, com seu cabelo pendendo como cortinas emaranhadas. Sua estatura me hipnotizou. Ele veio em minha direção e eu reagi devagar demais. A mão que me agarrou quase conseguia dar uma volta completa em minha cintura. Ele me levantou até ficarmos cara a cara e sua crina imunda partiu quando ele olhou para cima.

“Jesus, você é uma tremenda ofensa para os olhos.” Podia ver que ele ia me matar, então eu não tinha motivos para ser educado. “Vejo por que o rei deseja executá-lo.”

Mesmo no anonimato das celas, as gargalhadas hesitaram. Não se fazia piada de um homem daqueles. Nada em seu rosto era delicado: linhas de expressão abrutalhadas, uma cicatriz e a saliência dos ossos sob a pele áspera. Ele me ergueu para me arremessar nas pedras, como se jogasse um ovo ao chão.

“Não!”

Sob o braço do gigante, eu pude ver um ancião e também um jovem ruivo que ajudavam o nubano a ficar de pé.

“Não”, disse o nubano mais uma vez. “Eu devo a vida a ele, irmão Price. Além do mais, sem o garoto você ainda estaria em sua cela, esperando pelos prazeres de amanhã.”

O irmão Price me deu seu olhar de maldade impessoal e me deixou cair como se eu não mais existisse. “Deixe-os ir”, disse num grunhido.

O nubano entregou as chaves ao ancião. “Irmão Elban.” Então se aproximou de onde eu caíra. Lundist estava jogado ali perto, encarando o chão. Uma poça de sangue se formava ao redor de sua testa.

“Foram os deuses que o enviaram, garoto, para me soltar desta mesa.” O nubano ou os olhos pelos instrumentos de tortura e então olhou para Lundist. “Agora você vem com os irmãos. Se encontrarmos o homem que deseja ver morto eu o mato. Quem sabe?”

Cerrei os olhos. Não gostei daquele “quem sabe”.

Olhei Lundist por um momento. Não saberia dizer se ele ainda respirava. Senti um fantasma da culpa que talvez eu devesse estar sentindo, o formigamento de um membro amputado que ainda incomodava mesmo que a carne não estivesse mais lá há tempos.

Fiquei ao lado do nubano, com Lundist a meus pés, e observei os marginais soltarem seus camaradas. Quando dei por mim estava encarando o calor alaranjado do carvão, rememorando.

Lembrei-me de um tempo em que minha vida era uma mentira. Vivia num mundo de coisas suaves, verdades mutáveis, toques sutis, risos sem razão. A mão que me puxou da carruagem naquela noite, que me retirou do colo aquecido de minha mãe e me atirou aos prantos na noite chuvosa, aquela mão me jogou através de um porta pela qual não posso mais retornar. Todos nós amos por essa porta, mas tentamos sair por nossa própria vontade, aos poucos, tomando fôlego, caindo e tentando.

Nos dias após minha fuga e minha doença vi meus velhos sonhos ficarem murchos e debilitados. Vi minha vida de criança amarelar e cair de cima da árvore, como se um vento áspero viesse assombrar a primavera. Foi um choque perceber o quão pouco minha vida significava. Quão mesquinhos eram as cavernas e os fortes nos quais William e eu brincamos com uma convicção tão feroz; quão tolos eram nossos brinquedos sem a intensidade de uma imaginação inocente para animar suas existências.

Enquanto estivesse acordado eu sentia um incômodo, uma dor que crescia toda vez que remexia as lembranças com minhas mãos. E eu voltava a ela, de novo e de novo, como uma língua no vão de um dente caído, atraído pela ausência. Eu sabia que ela me mataria.

A dor virou minha inimiga. Mais do que o Conde Renar, mais do que meu pai barganhando vidas que lhe deveriam ser mais importantes do que a coroa, a glória, ou Jesus no calvário. E, graças à teimosia que habitava dentro mim, em alguma trincheira de negação egoísta, eu não me permitiria, ainda que aos dez anos de idade, me render a nada ou a ninguém. Eu lutei contra essa dor. Analisei suas ofensivas e descobri suas linhas de ataque. Ela inflamava, como o pus de uma ferida azeda, retirando-me as forças. Éramos tão íntimos que eu conhecia o remédio. Ferro em brasa para a infecção, cauterizar, queimar, purificar. Eu cortei fora toda a fraqueza do querer-bem que havia em mim. O amor pelos meus mortos eu deixei de lado, guardado numa urna, um objeto de estudo, uma evidência seca, que já não sangrava mais, livre, sem restrições. A capacidade de um novo amor eu incinerei. Eu a lavei com ácido até que o solo se tornasse improdutivo e que dele nada brotasse, nenhuma flor criasse raízes.

“Vamos.”

Olhei para cima. O nubano falava comigo. “Vamos. Estamos prontos.”

Os irmãos se juntaram à nossa volta formando uma gama de maltrapilhos fedorentos. Price segurava a espada de um dos carcereiros. A outra brilhava na mão de um segundo gigante, apenas um pouco mais baixo, um pouco mais leve, um pouco mais novo e tão similar fisicamente que ele só poderia ter saído do mesmo útero que Price.

“Vamos ter que abrir caminho para fugir daqui.” Price testou a ponta de sua espada contra a barba rala que crescia em seu queixo. “Burlow, você vem na frente comigo e com Rike. Gemt e Elban, vocês ficam na retaguarda. Se o garoto atrapalhar, matem.”

Price escrutinou a câmara a seu redor, cuspiu, e partiu para o corredor. O nubano pôs a mão sobre meu ombro. “Você deveria ficar.” Ele acenou na direção de Lundist. “Mas se você vier não fique para trás.” Olhei para Lundist. Eu podia ouvir as vozes me pedindo para ficar, vozes familiares, mas distantes. Eu sabia que o velho andaria sobre brasas para me salvar, não porque ele temesse a ira do meu pai, mas porque... sim. Eu podia sentir as correntes que me atavam a ele. Os ganchos. Eu senti a fraqueza novamente. Senti a dor surgir de rachaduras que pensei que estivessem seladas.

Olhei para o nubano. “Não vou ficar para trás”, eu disse.

O nubano franziu os lábios, deu de ombros e foi atrás dos outros. Saltei sobre Lundist e o segui.

_____________________________________________

Likes (12)
Comments (0)

Likes (12)

Like 12

Comment

    Community background image
    community logo

    Into — Anime? the community.

    Get Amino

    Into — Anime? the community.

    Get App