⠀⠀⠀⠀⠀⠀Em meu jardim de sonhos, silenciosa,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Habita a flor que insiste em se ocultar;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Tímida essência, lânguida e formosa,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Que teme a luz, mas anseia por brotar.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Nos véus do tempo, em rubra se conserva,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Guardando em si perfumes por doar;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Mas cada espinho que o destino enerva
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Faz sua pétala em sombra se fechar.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Oh, coração, tão débil e cativo,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Por que recuas, mesmo ao sol benfazejo?
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Por que, se o amor te chama comivo,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Negas o céu e sufocas o desejo?
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Se eu pudesse, em candura e sem temores,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Abrir-me enfim, qual rosa ao meio-dia;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Deixar fluir meus ocultos esplendores,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀E ser, no mundo, pura poesia.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Mas sou botão em orvalho encolhido,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Na madrugada fria a se guardar;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Sou promessa de um lirismo adormecido,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Que aguarda mãos suaves pra acordar.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Assim me fico, etérea, enlevada,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Flor que à vida implora permissão;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Porém, no íntimo, a alma enamorada
⠀⠀⠀⠀⠀⠀Suspira, enfim, por plena floração.
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